27 de agosto de 2021

Dicas para administrar uma empresa familiar


Empresas familiares são caracterizadas pela existência de uma interação entre dois sistemas: família e negócio. Para que uma empresa seja considerada familiar, não é necessário que todos os membros da família trabalhem como funcionários. A existência de familiares na diretoria ou no quadro de acionistas já é suficiente para que esta empresa seja considerada familiar.

O especialista do Sebrae, Cristiano Magalhães, comenta que a abertura de negócios familiares no Brasil é, tradicionalmente, algo comum e, estes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representam cerca de 90% das empresas do país. Por outro lado, ainda de acordo com o Instituto, o índice de mortalidade dessas empresas é muito alto e as que sobrevivem à terceira geração não passam de 5%.

Nossa experiência mostra que gestão ineficiente de recursos, confusão patrimonial, decisões emocionais e resistência à inovação estão entre os principais motivos do insucesso destes negócios.

Não confunda as finanças da empresa com as do empresário

Misturar as finanças da empresa com as do empresário é algo muito comum em empresas familiares. Em muitos casos, isso acontece pela falta de entendimento de que o caixa da empresa e as finanças pessoais do empresário são coisas distintas. O que ocorre, principalmente, pela falta de uma administração profissional.

Cristiano Magalhães ressalta que “o indicado é que o empresário e todos os familiares que, de alguma forma, estejam envolvidos no negócio, definam um limite para suas retiradas pessoais, salário ou pró-labore. O segredo é não pensar que o caixa da empresa é um caixa eletrônico e está 24 horas à disposição do(s) dono(s). Outro fato importante é que este ‘salário’ precisa ser compatível com os números e objetivos da empresa”.

Cuide bem da gestão dos recursos

Em uma empresa, além da existência de recursos financeiros, existem também os recursos vinculados ao conhecimento e ao capital humano. Gerenciar de maneira eficiente todos eles, é de suma importância para que os objetivos planejados sejam alcançados. Para isso, é necessário comprometimento e que “as pessoas com as competências necessárias sejam alocadas em atividades nas quais suas aptidões possam ser melhor exploradas”, ressalta Cristiano.

O especialista também alerta para a existência de pessoas ocupando determinadas posições na empresa pelo simples fato de pertencerem àquele núcleo familiar sem, necessariamente, ter a qualificação necessária para exercer a função. “É importante que os papéis sejam bem definidos e que, independentemente da atividade a ser exercida, seja ela intelectual ou operacional, a qualificação e o aprimoramento sejam buscados a todo momento. Um dos grandes gargalos na empresa familiar é a ausência da capacitação em gestão por parte daqueles que têm a missão de administrar as finanças da empresa.”

Atenção para as relações interpessoais

As relações interpessoais estão presentes em quase todos os momentos do nosso cotidiano. Isso quer dizer que todos nós interagimos com pessoas para a realização de inúmeras atividades. Num clássico dia de trabalho, por exemplo, trocamos algumas palavras com a família no café da manhã, encontramos pessoas ao sair de casa e, ao chegar no trabalho, passamos por volta de oito horas nos relacionando com pessoas que, não raro, possuem um perfil diferente do nosso.

Na maioria das situações, isso pode ser benéfico, já que os insights e as trocas acontecem através das diferentes percepções que caracterizam cada ser humano. De qualquer maneira, conflitos podem surgir de relações familiares, entre amigos e, também, no ambiente de trabalho.

Agora, imagine que você esteja trabalhando com as mesmas pessoas que também dividem a vida e a rotina fora do trabalho com você? É comum que, nas empresas familiares, problemas nas relações interpessoais surjam. O que pode ser um influenciador, por exemplo, nos processos de tomada de decisões.

Segundo Cristiano, “é ideal que, embora não seja das tarefas mais fáceis, preferências pessoais e desavenças sejam esquecidas quando se trata da administração do negócio. É preciso lembrar aos familiares que os interesses do negócio estão à frente dos pessoais, e não o contrário. Um empreendimento vive de decisões racionais e não, emocionais”.

Planeje-se para o desafio da sucessão

E quando chega a hora de passar o bastão? Além de garantir uma boa gestão para a empresa no momento presente é preciso pensar nas próximas gerações. O planejamento não diz respeito somente ao processo que vem depois da concepção de uma ideia e antes da abertura de um negócio. O planejamento também é importante para a garantia de uma sucessão eficiente.

 “A sucessão familiar nem sempre é tratada com a seriedade devida. Não raro, filhos são inseridos no negócio em determinado momento de suas vidas sem que sejam devidamente preparados ou até mesmo que sua opinião seja ouvida. Em muitos casos, não há conciliação das expectativas entre sucessores e sucedidos. O desafio é garantir a continuidade do negócio de forma sustentável”, revela Cristiano Magalhães.

E esse processo geralmente revela conflitos de gerações: de um lado, quem criou o negócio, passou por todas as dificuldades e achou a “fórmula” imutável para o sucesso. Do outro, a geração que já nasceu num ambiente muito mais dinâmico e desafiador e tem quase certeza de que a fórmula precisa ser atualizada.

Diante desse cenário, a grande questão é: o que fazer? Magalhães cita três passos para se planejar para esse momento:

  • Primeiro passo: Saber se há genuíno interesse da família em participar do negócio, herdando os bônus e os ônus.
  • Segundo passo: Elencar as competências necessárias e comparar com os conhecimentos e aptidões de cada um.
  • Terceiro passo: Entender que, por mais que a cultura organizacional tenha sido regada e alimentada por anos ou até décadas, o momento dos negócios exige que empresas e empresários estejam inseridos num contexto de inovação. Tal fato será determinante para a sustentabilidade dos negócios daqui por diante. Ou seja, o dito popular “em time que está ganhando não se mexe” não se aplica mais ao ambiente de negócios.

Empresas familiares e a inspiração para o empreendedorismo

De acordo com Louis Jacques Filion, “muitos autores têm mostrado que as pessoas apresentam mais chances de tornarem-se empreendedoras se houver um modelo na família ou no seu meio”. O meio que Filion cita é o meio social, ou seja, a família, a escola, os amigos com os quais a pessoa se relaciona.

Acompanhar o trabalho dos pais ou parentes dentro de uma empresa familiar dá a algumas pessoas o primeiro “start” para o empreendedorismo. Aos poucos, vai se desenvolvendo uma ligação emocional com o negócio e a vontade de contribuir e fazer parte do seu propósito. Essa proximidade dos familiares com o negócio é, inclusive, um ótimo caminho para perceber pontos de melhoria e coloca-los em prática.

Agora é só fazer acontecer!

Fonte: Meu Bolso em Dia

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